revista fevereiro - "política, teoria, cultura"

   POLÍTICATEORIACULTURA                                                                                                     ISSN 2236-2037



 

Maria Caramez CARLOTTO

de te fabula narratur: uma reflexão sobre a construção do mito Yoani Sánchez pela sociedade brasileira

 


Que os mitos se pensam entre si, que sua estrutura seja analisável, não há dúvida, e Lévi-Strauss oferece uma prova brilhante; mas isso, de certo modo, é secundário: pois eles pensam primeiramente a sociedade que se pensa neles, e aí reside sua função. (Pierre Clastres, Arqueologia da violência, 2004, p. 316)

Raramente, a visita de uma personalidade política estrangeira ao Brasil alcançou tanta visibilidade e suscitou tanto debate como a da cubana Yoani Sánchez em fevereiro de 2013. Nem mesmo representantes de governos controversos, como George W. Bush ou Mahmoud Ahmadinejad, tiveram um impacto tão amplo no debate público brasileiro quanto a dissidente cubana. Na sua rápida passagem pelo país, entre os dias 18 e 25 de fevereiro deste ano, Yaoni provocou uma verdadeira polêmica nacional. Motivou posicionamentos de partidos políticos, movimentos sociais e centrais sindicais. Foi tema de editoriais e artigos assinados em jornais e semanários de grande circulação. Foi capa de revistas e tema programas televisivos, agitou as redes sociais e o mundo dos blogs.

No entanto, na polêmica instaurada pelas diferentes vozes do debate, prevaleceu uma visão algo mitológica da blogueira: ou bem ela seria uma agente financiada pela CIA e inflada pela direita internacional a fim de destruir o socialismo cubano e enfraquecer experiências de esquerda, ou bem um símbolo áureo da luta internacional por democracia, liberdade de imprensa e direitos humanos - uma espécie de Aung San Suu Kyi caribenha. Em um polo e outro, Yoani Sánchez foi alçada à condição de mito.
Pelo menos desde Lévi-Strauss, sabemos que os mitos guardam uma interessante qualidade: eles são capazes de revelar, à revelia dos sujeitos, algumas de suas contradições mais íntimas e menos confessáveis. Os mitos, de uma forma particular, pensariam aquilo que os sujeitos não querem ou não podem pensar. Como diria Pierre Clastres, os mitos pensam primeiramente a sociedade e nisso reside sua função principal.

É possível olhar para a repercussão da visita de Yoani Sánchez na sociedade brasileira desse ponto de vista, ou seja, enquanto uma construção mitológica. Sobretudo porque, na polêmica gerada durante a sua visita ao Brasil, discutiu-se muita coisa, menos a real situação de Cuba e o significado político de Yoani na ilha governada pelos irmãos Castro. Estava em jogo, antes, o destino e as contradições da própria sociedade brasileira que, à esquerda e à direita, alçou uma desconhecida ao posto de mito para, internamente, legitimar determinadas posições. Isso significa que o objeto deste texto não é Yoani Sánchez e sua ilha, mas a instrumentalização de ambas pelo debate político nacional. Se pouco tem a dizer sobre Cuba, o mito de Yaoni Sánchez construído pela sociedade brasileira permite acessar, por outro lado, algumas das nossas contradições políticas mais essenciais, exatamente como sugeriu Lévi-Strauss e sua análise sobre a função social dos mitos.

Implícito está, portanto, que não obstante toda a polêmica, permanece em aberto o desafio de decifrar o mito Yoani Sánchez, ou seja, de construir uma posição politicamente consequente em relação a Cuba, na qual a defesa radical da democracia e a condenação de toda a forma de violência e opressão praticadas pelo regime castrista não implique a condenação sem mediação da experiência cubana, nem a defesa de uma adequação pura e simples ao capitalismo atual. A aposta, aqui, é de que a análise da construção do mito Yoani Sánchez pela sociedade brasileira, ao revelar a dimensão mitológica das posições predominantes no debate, ajude nessa direção.

Começando pelos partidos políticos, tomemos o mais engajado nos protestos contra Yoani Sánchez, o PCdoB e sua União da Juventude Socialista, a UJS. Já no seu manifesto de fundação, entre versos de Titãs, Legião Urbana e Cazuza, vemos a UJS apresentar a sua filiação à Revolução Cubana:

Em 1917, sob o comando de Lênin e outros revolucionários, o Socialismo provou, na velha Rússia, que o capitalismo não é eterno. Em poucas décadas o Socialismo alterou a face do mundo, levando à construção da União Soviética e à vitória de vários povos do Leste Europeu e da Ásia. Nestas suas primeiras experiências históricas provou que é superior ao capitalismo ao oferecer direitos sociais e uma nova perspectiva de vida para a humanidade, mesmo vivendo sob o constante cerco capitalista. Jamais um país enfrentou tantas agressões. E, ainda assim, foi a URSS que derrotou a agressão nazista, perdendo 22 milhões de patriotas, abrindo uma época de mais direitos sociais, democracia e o fim do colonialismo.  No entanto, o povo, força principal da revolução, foi perdendo protagonismo. A democracia e a liberdade foram se reduzindo para os trabalhadores e a juventude. A vida cultural e científica passou a ser tratada com oficialismo, fatores que desarmaram as forças revolucionárias, levando ao fim deste primeiro ciclo socialista na URSS e no Leste Europeu. Mas o tempo não pára. A resistência e a evolução do Socialismo na China, em Cuba, no Vietnã e outros países, junto com a luta dos povos em todo o mundo, abrem caminhos da nova luta pelo Socialismo, em especial na Ásia e na América Latina.

O apego simbólico à Cuba se expressa, também, no próprio logotipo da UJS, que projeta sobre a sigla da organização, a sombra de Che Guevara, herói de Sierra Maestra. Mas se no discurso e na imagem, o PCdoB e sua juventude reivindicam diretamente as experiências comunistas do século XX, na prática, é difícil reconhecer nas proposições concretas do partido, medidas e políticas que apontem para a reprodução dessas experiências no contexto brasileiro. Defendem para a ilha do Atlântico políticas que já não propõem para o Brasil. É como se, à medida que se afasta, com ou sem razão, de antigas posições, se tornasse ainda mais necessário para o PCdoB buscar, na defesa incondicional do regime castrista, uma certa "aura de esquerda", panaceia milagrosa para a angústia da perda de identidade. Não por acaso, coube à UJS abrir a temporada de execração pública da blogueira; como coube ao mesmo PCdoB o deprimente destino de tornar-se principal articulador da aprovação de um código florestal retrógrado, para alguns mesmo criminoso, peça imposta pelo capitalismo agrário brasileiro, o mesmo apontado no manifesto da sua juventude como a "praga secular do nosso país". Não há como não reconhecer, portanto, na defesa acrítica do comunismo cubano pelo PCdoB, uma certa tentativa de negar o sentimento de vergonha, tímida e quieta, de uma inflexão política carente de convicção.

Mas o PCdoB não só liderou os protestos contra Yoani Sánches, como foi o mais categórico ao apresentar a blogueira como uma "agente da CIA". Na sua "Nota de esclarecimento sobre a visita de Yoani Sánchez ao Brasil", a UJS a descreve como "um instrumento financiado pelo imperialismo norte-americano e europeu com objetivo de desestabilizar a heroica resistência do povo cubano". A dimensão mitológica da descrição é proporcional à função simbólica que a defesa acrítica do comunismo cubano desempenha para o partido.

Mas o PCdoB só expressa, de modo mais paradigmático, a má-consciência de uma certa esquerda que, imersa no pragmatismo, parece olhar para Cuba apenas pelo retrovisor de uma nostalgia ideológica. Nesse sentido, se o PT não se engajou direta e abertamente nos protestos contra a cubana, nem pronunciou-se de modo unívoco sobre a visita da blogueira, foi apenas porque não foi possível compactuar uma posição interna em relação a ela, o que revela a existência de setores, dentro do partido, com posições próximas à do PCdoB.

Mas isso não passaria de um fenômeno menor da psicologia política nacional, não fosse sintomático de um problema estrutural da esquerda brasileira hoje, particularmente de alguns setores do PT. Ou seja, ao invés de promover uma crítica imanente de suas contradições - contradições que surgiram como resultado esperado da sua experiência de poder na última década -, essa esquerda teima em recorrer ao passado para forçar uma conciliação empobrecedora do debate. Como se o fato de ter combatido a ditadura e lutado para tentar viabilizar um socialismo democrático justificasse, hoje, todo e qualquer erro. Em vez de valer-se dessas contradições como oportunidade para superar estratégias problemáticas, recorre a um passado idílico como antídoto para as críticas e inflexões políticas necessárias. A reação de parte do PT diante da crise do mensalão foi, nesse sentido, paradigmática: em vez de enfrentar o escândalo como uma oportunidade para a reflexão sobre sua política de alianças, estratégias de financiamento e dificuldades inerentes às práticas de um governo progressista em um contexto partidário conservador, o partido preferiu resgatar a história dos seus membros na resistência à ditadura, como se isso permitisse eludir o problema. O caráter claramente político do julgamento, o rancor de classe expresso na cobertura da mídia, os erros técnicos e a mobilização de uma jurisprudência duvidosa contribuíram para fortalecer essa postura de contornar o cerne do problema ao invés de atacá-lo na raiz. O resultado dessa incapacidade política de colocar e enfrentar o problema com radicalidade é que o governo continua dependente - talvez hoje de forma mais estável - do fisiologismo das mesmas forças políticas que combatia.

O PSTU, por sua vez, assumiu postura completamente dos outros partidos de esquerda, ao soltar uma nota condenando os protestos contra Yoani e a ditadura dos irmãos Castro, "governada por uma burocracia estalinista desde o início". Na mesma nota, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados ataca os que descrevem Yoani como "agente da CIA", afirmando que "suposições sobre suas reais motivações à parte, fato é que a blogueira faz uma crítica correta a partir de um fato concreto: a ausência de liberdade de expressão e organização em seu país". A condenação à ditadura cubana se soma a uma condenação da "restauração do capitalismo" imposto pelos ditadores ao país. Ao identificar a experiência cubana a uma forma de capitalismo como outra qualquer - afirmação, em geral, contestável - o PSTU, de certo modo, facilita sua condenação a Cuba, eludindo o peso da crítica ao caráter autoritário de um regime formalmente comunista.

Ainda no campo partidário de esquerda, o PSOL procurou isentar-se do debate, evitando a polêmica em torno da visita da blogueira. Limitou-se a reafirmar uma resolução congressual de apoio à Revolução de 1959, sem condenar nem apoiar os protestos que ocorriam contra a blogueira. Subsumido a uma lógica da diferenciação, ao ver a esquerda governista atacar Yoani e o PSTU defendê-la, o PSOL parece ter ficado sem lugar, optando por um silêncio estratégico e, em certo sentido, constrangedor. Só para mostrar sua dadivosidade benevolente, o mito não se esqueceu nem mesmo da extrema esquerda, incapaz de pensar mediações políticas nos processos de mudanças sociais permanecendo, por isso, algo alheia às disputas políticas reais.

No extremo oposto do espectro político, o PSDB foi, junto com o PCdoB, o partido mais ativo na polêmica provocada pela visita da blogueira. Líderes e representantes do partido em diversos níveis mobilizaram-se para condenar publicamente os protestos contra a blogueira, associando-os a uma intolerância à democracia inerente ao PT e, em menor medida, aos demais partidos de esquerda. Dentro do espectro partidário nacional, o PSDB foi, sem dúvida, o que mais se pronunciou sobre o caso Yaoni Sánchez, com mais de uma dezena de notas publicadas em seu portal no mês de fevereiro.

A proliferação de declarações dos peessedebistas responde, por um lado, a uma lógica interna de funcionamento do partido que, ao contrário da tradição partidária de esquerda, não apresenta mecanismos internos de deliberação capazes de consolidar posições públicas comuns em polêmicas desse tipo, o que leva a uma série de posicionamentos individuais sobrepostos e redundantes. Por outro lado, o volume de declarações públicas do PSDB expressa, também, o caráter estratégico que a polêmica Yoani adquiriu no debate político nacional, particularmente para os partidos de oposição.

Nesse sentido, o que sobressai na posição do PSDB em relação a Yoani Sánchez é a constante tentativa de associar o seu principal opositor, o PT, à defesa da ditadura cubana e à restrição da liberdade de Yoani, atribuindo-lhe, assim, uma postura inerentemente autoritária. Isso fica bastante explícito ao considerarmos as notas sobre Yoani Sánchez publicadas no site do partido: todas, sem exceção, colocam o suposto autoritarismo do PT e da esquerda no centro da nota. Um exemplo significativo foi a análise do Instituto Teotônio Vilela intitulada "Cartilha da intolerância" que, antecedida por uma foto de Lula e Dilma em um abraço informal, começa afirmando:

O PT e seus simpatizantes voltaram a exercitar sua costumeira intolerância. O horror às críticas e ao simples exercício do contraditório marcam tanto as agressões e os protestos que cercam a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez ao país, quanto o panfleto travestido de cartilha em que o partido dos mensaleiros distorce a história brasileira recente.

O vice-líder do PSDB na câmara dos deputados, César Colnago foi em busca da mesma polarização quando afirmou:

Extremistas do lulopetismo voltaram a exercitar a velha e costumeira intolerância com a passagem da blogueira cubana, Yoani Sánchez, perseguida pelo insólito "crime" de defender a liberdade de expressão, um patrimônio da humanidade.

A presidente do PSDB-Mulher, Thelma de Oliveira, não saiu do tom de ataque ao PT, abrindo seu artigo "PSDB, aqui se defende a liberdade" dizendo:

A visita da dissidente cubana Yoani Sánchez ao Brasil - apesar de todas as agressões e constrangimentos provocados por militantes e parlamentares do PT e do PCdoB - é um divisor de águas na postura que cada partido adota no país. Nesse sentido, foi esclarecedor para a opinião pública e, em especial, para a nossa juventude, observar o comportamento autoritário, prepotente e stalinista do PT, do PCdoB e do governo brasileiro por eles comandado.

Para mencionar um último exemplo da centralidade que o PT assumiu nas análises do PSDB sobre a passagem de Yoani pelo Brasil, lemos no artigo do deputado Carlos Roberto (PSDB-SP):

Uma das características mais marcantes de um sistema fascista, que tanto mal já fez a humanidade nos países onde foi implantado, é a ausência da pluralidade de ideias e pensamentos. De forma vil, o partido que comemora 10 anos de poder absoluto no Brasil caminha a passos largos para fazer desta nação um samba de uma nota só. Na semana passada, o PT patrocinou uma série de eventos que ilustram bem como se constrói uma ditadura. (...) Porém, os ataques a Yoani mais uma vez confirmam que o PT quer de todas as formas implantar no Brasil o totalitarismo, tentando impedir que vozes estranhas a essa cartilha já esgotada sejam ouvidas. Um amplo projeto de censura, travestido de controle social da mídia, segue em curso nos bastidores do poder, como forma de calar os veículos de comunicação que ainda buscam a liberdade de expressão. O pano de fundo de todo esse movimento não é outro que não seja o plano do PT de perpetuação no poder. 

A intenção, com a apresentação desses excertos, não é deslegitimar a posição do PSDB, negando um conteúdo genuíno à sua defesa de Yoani, da democracia e da liberdade de expressão, mas demonstrar, de novo, como a construção da imagem mitológica da blogueira cubana pela sociedade brasileira subordinou-se à dinâmica política nacional, atendendo a interesses e preocupações internos que pouco se relacionavam à real situação de Cuba e à necessidade de reforma do regime castrista.

Ainda como exemplo dessa lógica, a passagem da cubana pelo Congresso Nacional, que ocorreu por iniciativa do PSDB, foi usada pela oposição para condenar o autoritarismo político - de Cuba e do PT - e associar a imagem dos seus líderes à Yoani e à defesa da democracia. O uso político da visita foi tão explícito, que até a Folha de S. Paulo chegou a afirmar, em manchete: "visita de blogueira cubana à câmara vira palanque da oposição". Além do senador e pré-candidato à presidência, Aécio Neves, colocaram-se ininterruptamente ao lado da blogueira os deputados Jair Bolsonado (PP-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). O primeiro, famoso por posições controversas como a defesa da tortura, da censura e da pena de morte, chegou ao extremo de defender a ditadura militar brasileira para a própria Yoani. Depois de afirmar que o golpe de 1964 havia sido uma "imposição popular", Bolsonaro concluiu: "graças aos militares nós gozamos hoje de democracia no Brasil", condenando o destino diverso de Cuba. O segundo, postando de defensor da liberdade de expressão, foi um dos responsáveis pela tentativa de censura do livro de Fernando Moraes, na Toca dos Leões, como lembrou em reportagem a revista Carta Capital.

Mais recentemente, o contestado Socialista Cristão, Marco Feliciano (PSC-SP), famigerado presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, procurou conquistar a simpatia - ou a piedade? - da opinião pública nacional ao declarar-se perseguido por seus opositores comparando-se à blogueira cubana. Ao referir-se aos protestos contra as posições homofóbicas, machistas e racistas que o deslegitimavam para presidir a câmara de direitos humanos, Feliciano afirmou: "A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez". De novo, é o mito e sua dimensão simbólica mobilizados para legitimar posições no contexto nacional.

O que dizer dessa direita brasileira que, parecendo acreditar na antiga crença totêmica da comunicação do sagrado pelo contato físico, se acotovelou para tirar fotos ao lado da cubana, como se partilhassem a esperança inconfessa de que, desse modo, se esqueceriam suas afrontas à democracia e aos direitos humanos no Brasil? Como se não bastasse suas relações de parentesco com a ditadura brasileira, a direita atravessou o rubicão da democracia e atualizou suas pautas, negando o avanço dos direitos civis e humanos. De um lugar não muito distante, o PSDB viu na "jovem idealista" uma oportunidade para atacar o governo - o que, dado o vazio do seu discurso hoje, mostrou-se uma oportunidade de ouro, porque conferiu um tom nobre e internacionalizado ao seu discurso provinciano e limitado.

Esteira parecida tomou a grande imprensa brasileira que aproveitou os protestos contra a blogueira para, tomando o todo pela parte, entoar novamente seu mantra de denúncia do totalitarismo de toda e qualquer esquerda, como se a construção de formas de igualdade resultasse, necessariamente, em uma restrição da liberdade. Essa falsa lógica é a mesma que permite à imprensa alimentar o seu estereótipo de guardiã da liberdade de expressão contra toda e qualquer tentativa de regulamentação e democratização da comunicação no país, uma equação desigual em que a defesa de um mercado oligopolista controlado por uma dezena de famílias e avesso à regulamentação pública pretende se igualar à defesa da liberdade de imprensa.

Assim, o mito Yoani revelou, às avessas, o óbvio. Não o óbvio sobre Cuba, mas o óbvio da perversidade da política brasileira hoje. Porque se tratou, antes de tudo, de um embate de fantasmas - de projeções ideológicas, invertidas, das contradições próprias a cada força política. Incapazes de colocar essas contradições no âmbito do debate público e da crítica, elas são projetadas na questão Yoani. Cada um constrói seu fantasma e parte para a batalha, mas ninguém parece levá-los a sério: é o tradicional divórcio entre prática política e ideologia, levado ao extremo. Hoje, como ontem, a esquerda nada tem a ganhar com isso. E que Cuba não tenha sido discutida a fundo na passagem de Yoani Sánches pelo Brasil, só o comprova.









fevereiro #

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ilustração:Rafael Moralez




ilustração:Rafael Moralez




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